Introdução (ou porque RPG de fantasia medieval nunca mais)
Já fazem anos que perdi interesse pelo RPG de fantasia medieval clássico. É um gênero que já foi repetido à exaustão, pelo menos 50% de tudo que é produzido sobre RPG é sobre um mundo medieval tipo europeu com uma pegada fantástica tolkieniana.
Esse blog mesmo era pra ser sobre um mundo tipo D&D, onde de início não haveria muitas novidades pra ser sincero. Cheguei a mestrar algumas aventuras no D&D 3.5 e outras aventuras no Old Dragon, essa segunda já com o viés dos Grandes Guardiões, mas que não cheguei a executar na íntegra. A proposta de Grandes Guardiões era mais inovadora, onde os personagens dos jogadores poderiam ter acesso a companheiros animais realmente poderosos para os jogadores e desafios titânicos, uma mistura de Shadow of Colossus com The Last Guardian. Mas em geral ainda era um mundo D&D like.
Dessa forma, os mundos ‘mediavalóide’ não me agradavam mais. Cavaleiros com armaduras pesadas, magos com robes e chapéus pontudos, elfos tolkienianos…Se for pra jogar em um mundo assim, por que não contar a história em um mundo clássico, como a Terra Média (cuja campanha que joguei mais saudosista se passou na Primeira Era usando o D&D 3.0), Forgotten Realms, ou até os clássicos nacionais Tagmar e Tormenta?
Talvez por conta disso é que propostas de cenários não medievais, como horror, tenham crescido tanto nos últimos tempos.
Obs: posso estar errado, qualquer coisa coloquem o que acham nos comentários e podemos continuar o debate e até expandi-lo em outras matérias.
Mas…
Kalymba
De quando em quando surgem RPGs que trazem a vasta e rica história e cultura brasileira. A muito tempo atrás, na verdade um dos primeiros materiais de RPG brasileiros, traziam elementos nacionais como o Desafio do Bandeirantes, e também alguns cenários de mini-gurps, como Entrada e Bandeiras e Descobrimento do Brasil. Algum tempo depois vi um cenário que recriava um Brasil fantástico, o Hi-Brasil. Mais recentemente A Bandeira do Elefante e da Arara e o Orbe de Libra (ainda em financiamento coletivo).
Mas o RPG que mais me chamou atenção foi de afrofantasia Kalymba, “um RPG de ação e aventura épica inspirado nas culturas e mitologias do continente africano”, de autoria do Daniel Pirraça.
De início, o que me chamou mais atenção foi a capa, que de cara me atraiu pelos elementos da cultura africana, como tatuagens, máscaras e até um homem-hiena modafoka!
Pesquisando mais vi que realmente se tratava de uma proposta diferenciada em relação aos outros RPGs de fantasia medieval. Nenhuma das chamadas “raças clássicas” estão no cenário, chega de elfos, anões e halflings/hobbits. Em seguida todo o vocabulário teve um cuidado de apropriar de vários termos trazido pelos africanos em suas diversas culturas e mantido a custo de sangue e luta pelos seus descendentes. O sistema escolhido foi um sistema simulacionista, mas simples e ao mesmo tempo maleável, o +2D6, do Tio Nitro, um sistema que já estava pensando em usar para a nova versão do Omni (em breve).
Apesar do ‘Hack’ ser mais na estética do que nas mecânicas e tipos de histórias, ela é um novo ar para o cenário de aventuras medievais. Ainda vemos armaduras de placas e espadas longas, mas basta imagina-las com desenhos e decorações com motivos africanos. A magia também foi completamente alterada para dar um ar mais africano, com o uso de termos como mandinga, axé e no nome da maioria das magias.
Ainda não li todo o material, que pode ser encontrado parcialmente e gratuitamente no fastplay (56 páginas) na página do catarse para quem quiser conferir, e para quem ajudar no financiamento coletivo pode ter acesso a versão playteste (189 páginas) que está sensacional.
O livro básico conta com 10 raças, algumas com mais de uma variação, como os Azizas e os Obonianos (primatas humanóides), 21 orixás (deuses), 86 mandingas (magias), uma lista bem completa e interessante de equipamentos, regra de criação de personagem, descrição do cenário (mais de 60 páginas), sessão do mestre e 13 criaturas.
Somado a isso tudo é claro que o grande sucesso do financiamento coletivo permitiu trazer uma série de outros produtos, como o livro de aventuras oficiais (acredito que serão 5 aventuras), o livro de contos, o livro para campanhas vilanescas, o Malditos & Mirongas, que também permite ao mestre criar vilões para a campanha tradicional e contar com um bestiário expandido. E ainda tem a HQ, um livro jogo infanto juvenil e um hack de jogo de bolso ou solo (o Kalymbinha).
É claro que é um cenário novo, mas que já começa super parrudo, e tem tudo para ser um dos maiores RPGs nacionais ao longo do tempo, e que finalmente trás um novo sopro de vitalidade cheio da cultura nacional e africana ao nosso querido hobbies.
P.S. Estou ansioso para ver os futuros financiamentos coletivos, quem sabe uma cultura de homens felinos (thundercats?) ou uma adicionando a cultura nativo americana, em específico a tupi guarani, tão importante e ainda mais esquecida que a cultura africana.